"Viajo porque preciso..."

"Viajo porque preciso, volto porque te amo"

O sertão sempre foi uma temática na arte brasileira. Na música, literatura, artes plásticas, na poesia. Sempre existe a caatinga. Quase sempre igual em dores e desabores. No cinema não seria diferente.
Desde "Os Fuzis", "Vidas Secas", "Deus e o Diabo na terra do sol" e o vencedor de Cannes, "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (a.k.a. "Antônio das Mortes"), até uma veia cômica no sertão, encontrada de um modo delicioso, por exemplo em "Narradores de Javé".

Eu tenho sangue nordestino e uma paixão enorme pela cultura de lá, gosto de modo descarado. Mas do mesmo modo posso dizer, um dos filmes que menos vontade de assistir era o mais "pulava" da programação até meus olhos, durante o ultimo festival do Rio de cinema.
"Viajo porque preciso, volto porque te amo" é um titulo horrendo. Ainda mais se estamos falando de um dos mais bonitos filmes com essa temática dos últimos anos.

O primeiro grande êxito do longa está nos créditos a - bela e premiadissima - direção dupla por dois fantasticos artistas: Marcelo Gomes ("Cinema, Aspirinas e Urubus") e Karim Aïnouz ("O céu de Suely").
Em seguida vale notar que a trama é simples e até clichê desamor e ter que sair de casa, no caso, um viagem à trabalho, mas que para a estética buscada é perfeita.
O filme se passa como se o protagonista estivesse filmando as cenas, não temos muito contato além da voz - que nos guia a trama em meio a memórias e pensamentos. Tudo isso enquanto viajamos por um NE mais morto e muito mais vivo do que vemos na arte e na mídia.

É quase impossível não colocar suas lembranças misturadas às lembranças de José Renato. E quase impossível não se comover nesse filme que é uma grande mistura de ficção e documentário, de arte e antropologia.

É o filme nacional imperdível do ano.

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