Desejo e Perigo


(Lust, Caution, China, 2007)
Para mim não resta dúvidas! Dos diretores em atividade, Ang Lee é um dos mais refinados, se não o mais. É incrível como ele consegue dar profundidade às cenas, escancarar sentimentos escondidos em olhares e corações que, a qualquer um, parecem indecifráveis. Com "Desejo e Perigo" tive a grata surpresa de me surpreender, mais uma vez.

Nesse longa chinês, de 2007, o diretor de "Razão e Sensibilidade", "O Tigre e o Dragão" e "Brokeback Mountain" mergulha na história do próprio país. Nos apresenta uma China invadida por seu maior rival, o Japão, durante a segunda guerra mundial.

O sistema de dominação japonesa nas principais cidades chinesas era um espinho na carne para os oprimidos. Dentro da própria China, existiam aqueles que se "vendiam" aos inimigos, fazendo o serviço que, na verdade, aos japoneses competia fazer. Chineses nos altos escalões do poder, sustentavam o poderio nipônico sobre a China, desarticulando os movimentos de contestação.

Nessa situação vergonhosa e que envolvia uma disputa milenar onde o orgulho era mais forte que qualquer outra coisa, um grupo de jovens universitários chineses residentes em Shangai decidem montar um grupo de teatro. A intenção era arrecadar fundos para custear as ações de resistência.

Logo, optam por atuar de maneira mais incisiva e prática. Tornam a bela e talentosa Wang Jiazhi (Wei Tang) numa espécie de isca. A missão da moça seria seduzir um dos colaboradores japoneses em Shangai e matá-lo.

O processo de encantamento mútuo é lento e intenso. A dupla de protagonistas é responsável pelas cenas mais quentes últimos tempos. O resultado não poderia ter sido outro, caiu como uma bomba na China. O filme foi censurado e a estreante Wei Tang banida da imprensa chinesa.

Minúcias à parte e sem querer estragar as expectativas de ninguém, volto a falar da classe do diretor Ang Lee já que contei um pouco da história em si.

Em "Brokeback Mountain" e "O Tigre e o Dragão, Lee abusa das tomadas gerais e explora ambientes inóspitos e selvagens - um verdadeiro delírio visual. Já em "Desejo e Perigo" o diretor opta pelos closes fechadinhos que penetram a alma, revelam o medo e o desejo quase irreprimível.

Acho maravilhosas as cenas em que as mulheres jogam aquele tradicional jogo chinês cujo nome não me vem à mente. As mãos dançam sobre as peças. A tensão está presente a todo momento. Uma das cenas finais, onde a câmera acompanha a personagem principal atordoada, sem leme é lindíssima.

Enfim, esse é um tipo de filme que vale a pena conferir. Tudo em "Desejo e Perigo" funciona bem. Desde a bela trilha de Alexandre Desplat e os corretos figurinos e direção de arte até às atuações super convincentes e seguras de Wei Tang e Tony Leung Chiu Wai. A única ressalva é quanto ao ritimo inicial do filme que pode ser considerado um pouco lento por alguns. Pra mim não foi problema!


Um comentário:

Rafael Sandim disse...

Além de falar do filme, vc analisa o diretor e tudo. Escreve muito bem, fato.